UFC: Anderson Silva se despede com debate sobre legado no MMA e tamanho como ídolo nacional

Astro do MMA, Anderson Silva disputará hoje aquela que vem sendo tratada como sua última luta pelo UFC. Ele enfrenta o jamaicano Uriah Hall, em Las Vegas. Não vale cinturão, mas é um marco das artes marciais mistas por se tratar do possível desfecho da carreira na organização de um dos maiores atletas da história do octógono. Atrelado a isso, a saída do Spider de cena deixará duas perguntas: qual o seu legado ele para a modalidade e qual o seu tamanho como ídolo nacional. O Combate mostra todo o card do UFC Hall x Silva a partir de 16h30 (de Brasília). As cinco lutas principais começam às 20h, sendo a do lutador brasileiro a última da noite.

— Legado não é o que você deixa no octógono, é o que você deixa nas pessoas. Acho que deixei amor, carinho, persistência. Isso é o que fica para os que acompanharam a minha trajetória — disse Silva em coletiva antes da luta.

Anderson Silva Foto: Jeff Bottari

Anderson Silva viveu o auge entre 2006 e 2013, quando teve 17 vitórias seguidas e dez defesas de cinturão — até hoje, recorde de um brasileiro no UFC. Pelo retrospecto, é nome certo nos debates sobre os maiores da história do evento. Fora do octógono, o estilo showman atraiu multidões. Ele foi o primeiro grande sucesso de crítica, de mídia e de publicidade da organização.

Mas a idade chegou — hoje tem 45 anos — e, com ela, as derrotas. Além disso, a grave lesão sofrida no combate contra Chris Weidman e o teste positivo em antidoping em 2015 — a sua defesa alega que o motivo foi um medicamento para melhora de desempenho sexual dado por um amigo — arranharam a sua imagem.

Artista marcial

Tudo isso contribuiu para que a despedida, que deveria ser apoteótica, não atingisse o ápice esperado.

— É uma questão cultural para nós. O brasileiro tem o hábito de gostar de vencedores, e o Anderson Silva é uma prova clara disso. Todos falavam dele quando estava bem. Depois que ele perdeu algumas lutas e foi pego no doping, acabou pesando — analisa Fernando Fleury, especialista em marketing esportivo. — Os estádios de futebol são outro exemplo. A grande preocupação é fazer o torcedor ir, independentemente de como a equipe está. Mas por que se deixa de apoiar o time quando está mal, não deveria ser o contrário?

Essa queda de interesse é culpa exclusiva de Anderson? Na verdade, ele é vítima de um problema que afetou diversos lutadores do país: a entressafra de ídolos no MMA. Se antes era soberano nos cinturões, agora o Brasil tem apenas três: dois com Amanda Nunes e um com Deiverson Figueiredo.

Esses fatores tornam a luta de hoje uma importante régua para medir se Anderson conseguirá atrair atenção de uma multidão longe do auge. Mesmo o futebol concentrando a maioria esmagadora das atenções no país, há um grande reconhecimento a um panteão de ídolos de outras modalidades: no tênis, Gustavo Kuerten é reverenciado pelas conquistas quase duas décadas depois do auge em Roland Garros. No basquete, Hortência e Oscar estão no patamar de ídolos reconhecidos aqui e no exterior, e Ayron Senna é uma referência em uma categoria que o país conquistou glórias ao longo de décadas. Spider alcançará esse feito no MMA?

— A importância do Anderson não está apenas no MMA nacional. Foram oito anos de dominação, com uma série de golpes diferenciados e nocautes impressionantes. Ele trouxe o artista marcial para dentro do octógono, com um jeito diferente, encaradas e comemorações únicas. Não tenho dúvidas de que ele é um ícone do esporte. É por isso que ele é considerado o ‘Pelé do MMA’ — comenta Minotauro, ex-lutador e amigo de Anderson Silva.

Anderson, que popularizou ao redor do mundo um evento antes dominado por americanos, é hoje tratado como lenda por nomes como Jon Jones, Conor McGregor e George St-Pierre, ídolos da luta nos Estados Unidos.

— A construção de um ídolo não é feita apenas de vencer ou não. Também precisa ter uma boa imagem. É como se fosse um super-herói. O maior que já existiu é o Super Homem, que é o ser perfeito. O atleta, para ser ídolo, precisa ser perfeito, é a comparação que fazem. Por isso que quando um atleta sai da linha, é uma competição tão grande — completa Fleury.

Lutador de MMA Anderson Silva Foto: Ivo Gonzalez

Ex-campeão dos médios (até 84kg), Anderson Silva não garante que essa será a última luta da sua carreira. Segundo o Spider, o seu desejo é de permanecer mesmo que não seja pelo UFC. Tudo irá depender de uma conversa com Dana White, presidente da organização.

— Pode ser que seja a última (do UFC), ou não — diz, rindo — Foi um comum acordo entre o Dana (White) e a gente. Vamos focar no Uriah. Tudo isso vai ser conversado. Meu foco agora é a luta com o Uriah, vamos ver o que vai acontecer. Depois, vamos ver o melhor caminho a ser tomado .

O motivo é que, por contrato, ele tem duas lutas a serem disputadas. A primeira será contra Uriah Hall, mas não há previsão de outra. Além disso, não se sabe se esse contrato o impediria de lutar em outras organizações.

Existe um ditado no MMA que diz “father time wins it always” (o tempo sempre vence). Spider está perto de se aposentar. Resta saber como manterá a imagem longe do octógono.

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