Indicação/Técnica
Indicação:
Indicação comum para uma TC cerebral sem contraste:
- trauma
- subaracnoide / hemorragia intracraniana
- iscémia
- hipoxia
Contraste intracraniano pode ser dado quando há suspeita de:
- aneurisma
- trombose do seio
- tumor/metástases
Técnica:
Num exame padrão, o paciente está deitado de costas para a mesa.
Dependente do scanner, as imagens transversais podem ser reconstruídas no plano coronal e plano sagital. Quando desejado, contraste intravenoso pode ser administrado para obter um angiograma de TC (= CTA).
A técnica de TC utiliza unidades Hounsfield (fig. 1). Leia a classe Raio X/TC Technique (em Conhecimento básico) para mais informações sobre as unidades Hounsfield.
Figure 1. Unidade Hounsfield (HU) escala.
Anatomia normal
Parênquima cerebral
A superfície cerebral consiste de gyri (cristas) e sulcos (sulcos). No edema cerebral, os sulcos serão comprimidos, ao contrário da atrofia (como na doença de Alzheimer); aqui os sulcos se expandirão como resultado da perda de tecidos.
A matéria cinzenta está no exterior do parênquima cerebral. A matéria cinzenta é um pouco mais densa na TC do que a matéria branca. Isto porque a matéria branca (em oposição à matéria cinzenta) contém a substância gorda mielina (fig. 2/3).
Figure 2. Escala da unidade Hounsfield (HU).
♦ Figura 3. Anatomia cerebral normal no plano transversal.
Lóbulos cerebrais
Os dois hemisférios são subdivididos em quatro lóbulos: o frontal, o parietal, o temporal e o occipital (fig. 4).
Os lóbulos frontal e parietal são separados por um sulco profundo, o sulco central (= fissura de Rolando). A fissura Sylvian (= fissura lateral) separa o lobo frontal do temporal.
Figure 4. Lóbulos cerebrais.
Meninges
O cérebro é coberto de dentro para fora pela pia mater, a dura-máter aracnóide, a dura-máter e o teto do crânio (fig. 5).
Figure 5. Anatomia normal das meninges cerebrais.
O espaço subaracnoideo fisiológico consiste de uma fina teia de fibras colágenas/elásticas e está localizado entre a pia mater e a aracnoidea mater. Neste espaço estão os vasos sanguíneos e o líquido cefalorraquidiano.
Uma hemorragia venosa pode causar um espaço artificial subdural entre a dura-máter aracnóide e a aracnóide (ver hematoma subdural na secção de Patologia).
A camada exterior da dura-máter está ligada ao telhado do crânio. A camada interna da dura-máter tem pregas profundas (= pregas duras) dentro do crânio; o falx cerebral e o cerebelar tentorium (fig. 5).
Sistema ventricular
O líquido cerebelar, muitas vezes abreviado como LCR, é produzido no plexo coróide, localizado nos ventrículos. O líquor circula dos ventrículos (através do 3º ventrículo &aqueduto) para o 4º ventrículo. O LCR então flui através dos foramina para o espaço subaracnoideo sobre a convexidade do cérebro e ao redor da medula espinhal (fig. 6). A reabsorção ocorre no seio venoso (através da granulação aracnóide, fig. 7).
O LCR age como meio de transporte de nutrientes e resíduos e como almofada para o cérebro e medula espinhal.
Figure 6. Circulação do líquido cefalorraquidiano no plano coronal (a) e plano sagital (b).
Figure 7. Reabsorção do LCR através da granulação aracnoide no seio venoso.
Cisternas subaracnoidais
O espaço subaracnoideo é aumentado em certos lugares; as cisternas subaracnoidais. Estes espaços são preenchidos com LCR e em alguns lugares também circundam artérias/veinas/nervos cranianos.
A poucas cisternas subaracnoidais importantes incluem (fig. 8 – 11):
- Fissura silvestre; espaço entre os lóbulos temporal e frontal.
- Cisternaquadrigeminal (forma transversal W).
- cisternas supra-selares (forma transversal do pentágono/5 lados).
- cisternas pré-pontinas (forma transversal lunar).
- cisterna magna (cerebelomedularis); caudal do cerebelo e dorsal da medula oblonga.
Figure 8. Visão geral de uma série de cisternas subaracnoidais importantes no plano sagital.
♦ Figura 9. Fissura silvestre e cisterna quadrigeminal (forma W) no plano transversal.
♦ Figura 10. Cisterna supraselar (Pentágono) no plano transversal.
♦ Figura 11. Cisternas prepontinas (forma de lua) no plano transversal. Quarto ventrículo (IV).
Checklist
Os seguintes pontos podem ser usados como guia para avaliar uma TC cerebral para demonstrar/excluir uma hemorragia.
1. Parênquima cerebral:
- há assimetria em qualquer lugar ou obliteração do padrão de gyri sulci?
- diferenciação anormal da matéria cinzenta-branca?
- anormalidades hipo/hiperdensas?
2. Hemorragia:
- tipo/causa/localização?
- cisternasubaracnoides; obliteração da forma W, pentágono, forma lunar, fissura Sylvian?
- efeito da massa ou sinais de hérnia? ainda há espaço à volta do tronco cerebral?
3. Sistema ventricular:
- hydrocephalus?
- Sangue intraventricular?
4. Osso:
- inchaço dos tecidos moles extracranianos?
- fractura? Pneumocefalia?
- teor de ar normal dos seios nasais e da mastoide? Níveis de fluido de ar (sangue) nos seios nasais? (ATENÇÃO: fractura!)
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5. Exames antigos:
- novos resultados?
Patologia
- Hemorragia subaracnoidea
- Hematoma subdural
- Epidural hematoma
- Hemorragia parenquimatosa
- Complicações das hemorragias
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Hemorragia subaracnoídea:
Em uma hemorragia subaracnóidea, o sangue está localizado nos espaços subaracnóidea (fig. 12). Os espaços subaracnoidais incluem as cisternas basais (= espaço ao redor do tronco cerebral), a fissura Sylvian, os sulcos cerebrais, o espaço intraventricular e a fissura interhemisférica (fig.13).
Figure 12. Ilustração detalhada de uma hemorragia subaracnoidea. O sangue está localizado entre a pia mater e a aracnoide mater.
Figure 13. Cérebro no plano coronal. A hemorragia subaracnoidea segue o padrão gyri sulci e se espalha sobre a convexidade esquerda.
A hemorragia pode ser secundária a um traumatismo craniano. O sangue subaracnoideo atraumático é geralmente o resultado de um aneurisma cerebral (75%-80%). Outras causas não traumáticas incluem: uma malformação AV, eclâmpsia e hemorragia hipertensiva.
Patientes geralmente presentes com dor de cabeça aguda (“pior dor de cabeça de sempre”).
Um exame TAC sem contraste é a primeira escolha diagnóstica. Adicionalmente, um angiograma de TC (= ATC) do cérebro pode ser feito para detectar, por exemplo, um aneurisma intracraniano.
Característica em uma TC sem contraste (fig. 14-16):
- subaracnoideo sangue nas cisternas basais, fissuras Sylvian e ao longo da convexidade cerebral.
- sangue intraventricular com possivelmente um nível de fluido sanguíneo no corno posterior do ventrículo lateral.
♦ Figura 14. Sangue subaracnoideo na cisterna prepontina (obliteração hiperdensa da forma da lua).
♦ Figura 15. Sangue ao longo da convexidade cerebral direita. O sangue segue o padrão de gyri sulci cortical, característico do sangue subaracnoideo.
♦ Figura 16. Extenso sangue intraventricular no ventrículo lateral esquerdo, no aqueduto e no 4º ventrículo.
Complicações da hemorragia subaracnóidea (ver também secção Complicações das hemorragias):
- hydrocephalus.
- ischemia secundária ao vasoespasmo (4-10º dia em particular).
- hemorragia recorrente.
Comentário:
A sensibilidade da TC depende da quantidade de sangue e do tempo de varredura. As primeiras 48 horas têm uma boa sensibilidade para detectar sangue subaracnoideo. A sensibilidade então diminui rapidamente (< 50% após 1 semana). Isto é devido à reabsorção relativamente rápida do sangue subaracnoideo.
Hematoma sub-dural
O sangue está localizado entre a dura-máter e a aracnoidea.
Em 70-80% dos casos isto é causado por uma hemorragia venosa de anastomoses venosas rompidas; em 20-30% a causa é arterial (fig.17/18).
Figure 17. Ilustração detalhada de uma hemorragia subdural em uma anastomose venosa rompida. O sangue está localizado entre a dura-máter e a aracnóide.
Figure 18. Cérebro no plano coronal. Hematoma subdural ao longo da convexidade esquerda.
Patientes podem apresentar sintomas de dor de cabeça, consciência reduzida e/ou pupilas anormais.
Em pessoas jovens isto é frequentemente causado por trauma. Os idosos nem sempre precisam ter sofrido traumatismos cranianos graves. Nota: as veias corticais nos idosos são mais “esticadas” devido à atrofia cerebral. Isto promove o desenvolvimento de uma ruptura da veia.
Uma crosta em forma de foice é geralmente vista em uma tomografia computadorizada ao longo da convexidade cerebral (fig. 19).
O aspecto de um hematoma subdural em uma tomografia computadorizada pode variar: de hiperdenso/heterogêneo na fase aguda a iso/hipodenso durante a fase crônica. Em um quadro misto, hemorragias frescas são observadas em um hematoma subdural crônico.
♦ Figura 19. Hematoma subdural crônico (= hipodenso) à direita com um componente hemorrágico agudo (= hiperdenso).
Quando a hemorragia é pequena, a anormalidade no exame de TC pode ser muito sutil. Portanto, deve-se sempre procurar por assimetrias e pela presença de um padrão gyri sulci obliterado.
Hematoma peridural
O sangue está localizado entre o interior do osso e a dura-máter. Um hematoma peridural é uma hemorragia arterial e está fortemente associado a uma fractura craniana (fig. 20).
Figure 20. Ilustração detalhada de uma hemorragia epidural e uma fractura do crânio. O sangue está localizado entre o interior do osso e a dura-máter.
Figure 21. Cérebro no plano coronal. Hematoma epidural ao longo da convexidade esquerda.
>Em oposição ao hematoma subdural, uma casca em forma de lentilhas é vista em um hematoma epidural.
Caracteristicamente, a hemorragia é limitada à sutura do crânio. O cruzamento de uma sutura só é possível quando a fractura causou uma diástase de uma sutura.
Dependente do tamanho, efeito de massa e da situação clínica, opta-se por intervenção cirúrgica ou estratégia conservadora.
♦ Figura 22. Hematoma epidural temporal esquerdo com uma fratura cominutiva do osso temporal & Fraturas múltiplas da face (TC do cérebro sem contraste no ambiente cerebral & ambiente ósseo).
Hemorragia intracerebral
Refere a um sangramento no parênquima cerebral, também conhecido como hemorragia intra-axial. Existem vários tipos de hemorragias intracerebral (ver também fig. 23/24).
Trauma é a causa mais comum. Abaixo está uma lista de hemorragias intraparenquimais atraumáticas:
Idosos:
- hipertensão
- Angiopatia amilóide
- Transformação hemorrágica de um enfarte isquémico
- Tumor hemorrágico
- coagulopatia
Tratamento de adultos jovens:
- Anomalia vascular (inclui malformação AV, aneurisma)
- trombose do seio venoso
- vasculite
- encefalite hemorrágica
- cavernoma
Observa-se uma hiperdensidade nitidamente delineada na TC sem contraste (UC por volta de +40, consistente com o sangue), ver também figura 23/24. Dependendo da localização e extensão, a hemorragia pode se espalhar para o sistema ventricular.
É particularmente importante diferenciar entre uma hemorragia primária e uma hemorragia causada por uma lesão subjacente, por exemplo, um tumor.
♦ Figura 23. Um paciente de 60 anos familiarizado com hipertensão arterial. A TC sem contraste revela uma hemorragia intraparenquimatosa do lado direito nos gânglios basais. Em vista da localização (e história do paciente), esta é muito provavelmente uma hemorragia hipertensiva.
♦ Figura 24. Múltiplas metástases hemorrágicas cerebrais com edema circundante (vasogênico). O paciente acabou tendo uma história de melanoma nas costas.
Complicações de hemorragias
Hérnia cerebral
O conteúdo intracraniano consiste em 80% do cérebro, 10% do sangue e 10% do líquido cefalorraquidiano. A pressão intracraniana média (PIC) é de 10 mmHg. Como um sangramento, tumor ou edema ocupa espaço, a pressão pode aumentar. Sintomas como dores de cabeça, náuseas e vómitos podem desenvolver-se.
Uma anormalidade local pode causar efeito de massa e deslocamento do parênquima cerebral. Quando as estruturas cerebrais medianas atravessam a linha média (= linha de separação imaginária entre os dois hemisférios), o termo deslocamento da linha média é usado (fig. 25).
♦ Figura 25. Desvio da linha média para a esquerda em um hematoma subdural do lado direito (hematoma subdural crônico com componente hemorrágico agudo).
Hérnia cerebral ocorre quando o cérebro é deslocado sob o falx cerebral, o cerebelar tentorium ou através do forame magno, causando perda das funções do tronco cerebral (fig. 25. 26).
Vários tipos de hérnias cerebrais em efeito de massa supratentorial:
- hérnia subfalcina (hérnia cingulada): deslocamento do tecido cerebral sob o falxo cerebral.
- hérnia uncal (hérnia transtentorial descendente): a parte medial do lobo temporal é empurrada para baixo em direcção ao cerebelo.
- hérnia transforaminal: deslocamento para baixo e hérnia das amígdalas cerebelares ao nível do forame magno.
- hérnia externa: deslocamento do tecido cerebral para o exterior. Pode ser visto numa fractura craniana ou após uma craniotomia.
Hérnias cerebrais podem levar à oclusão dos vasos sanguíneos, infartos hemorrágicos e edema, adicionando ao efeito de massa.
Figure 26. Vários tipos de herniações cerebrais em efeito de massa supratentorial. M = efeito de massa, por exemplo, secundária a hemorragia ou a um tumor.
♦ Figura 27. Hérnia subfalcial, deslocamento da linha média e hérnia uncal secundária a grande hematoma subdural no hemisfério esquerdo.
Hidrocefalia
Aumento dos ventrículos também pode ocorrer em atrofia generalizada; dilatação ex-vacuo dos ventrículos (fig. 28).
Figure 28. Sulcos aumentados com perda tecidual (atrofia) e dilatação ex-vacuo concomitante dos ventrículos.
Outra causa de aumento de volume do sistema ventricular é a hidrocefalia. A hidrocefalia pode ser subdividida em hidrocefalia comunicante e hidrocefalia não comunicante.
Na hidrocefalia comunicante, o LCR pode deixar os ventrículos; por exemplo, em reabsorção reduzida do LCR, aumento da produção do LCR e hidrocefalia de pressão normal (HNP). Na hidrocefalia não comunicante, o LCR não pode deixar os ventrículos; por exemplo, na estenose do aqueduto, hemorragia intra ventricular, obstrução secundária a um tumor.
Fontes
- D. M. Yousem et al; The Requisites – Neuroradiology (2010)
- J. B. M. Kuks,J.W. Snoek; Klinische neurologie (2007)
- M. Schünke, E.Schulte, U.Schumacher; Anatomische atlas Prometheus: Hoofd, hals en neuroanatomie (2007)
- A.D. Perron et al; A multicenter study to improve emergency medicine residents’ recognition of intracranial emergencies on computed tomography. Ann Emerg. Med. 1998.
- M. Prokop et al; Spiral and Multislice Computed Tomography of the body (2003)
Author
-
Annelies van der Plas, radiologista MSK Maastricht UMC+